sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sobre dias frios e sensações


De gole em gole, o líquido quente inunda fantasmas que trago, desde sempre, comigo. De onde estou agora, assisto inerte a chuva, grosseiramente transparente, imperando sua veemência em enxaguar vísceras humanas. Sempre apreciei a sinceridade das chuvas. Não camufla seus tons cinzas, nem tampouco seus barulhos. Não acolhe covardia. Não espera ninguém. 
Daqui, posso senti-la zombar das mediocridades. Daqui, posso ouvi-la pedir "licença" com uma voz eternamente imperativa, que temo então minha verticalidade: eu, tão plateia. A verdade é encantadora e só me resta aplaudir. A partir dela, descubro a sensação dos dias deliciosamente frios: franqueza. Aqueles dias permissivos de vários prazeres desgovernados. Aquele frio que torna conveniente o uso de cobertores retalhados e da reflexão.
De onde estou, o cenário é convidativo. Pingos nus e verdades. Pingos e horas. E horas. E horas. Incansável. O tempo vira tempestade e os acordes roucos negam ir embora agora, dando coerência aos meus palpites. Como se não bastasse o espetáculo disponível da minha janela, saio.

Assim como as cargas d'água, eu não me importo.

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