terça-feira, 5 de novembro de 2013

Só hoje


Só hoje lesionaremos a pele da cara. O dia agora parece-me perfeito para o pecado. Tão desesperador, tão inarrável. Só hoje vamos desassossegar o espírito, zombar da provisoriedade e quem sabe até negligenciar essa postura ereta, cheia de normas e cheiro de flor. Não evitaremos a vulgaridade do grito, da auto investigação, do clamor ou do desconforto. Se as pessoas aceitassem a totalidade de suas próprias vidas e tudo o que isso inclui, seriam menos chatas. Menos flácidas de si e certamente livres do veneno da inconfidência. 
Às 2h, abandonaremos definições e às 3h, dispensaremos o pragmatismo. Agora, seremos eternamente doces e nos segundos seguintes, jorraremos fel. 

Não me interessa nenhum juízo de moralidade. Há tempo, sabemos o que certo e o que é "errado". Me interessa o soterramento de questões conflitantes e insuportavelmente insolúveis, que mais tarde, vou ignorar.
Aos que concordam comigo, morrerei dizendo que o nosso lirismo dispensa explicações e leiloa resultados. Aos alheios de si, compreendo a difícil tarefa de acompanhar essa escolha de vida em transe, mas torço que em algum breve momento de lucidez ou coragem, vocês deixem de tentar ser o que criam, para serem exatamente o que querem ou pelo menos, o que realmente são. Pois bem, exerçamos com destreza o teratismo.
Que rasgue por dentro, que inunde tudo até anestesiar, que desabite quinhentas vezes e borre qualquer mediania. Que faça quarta-feira virar domingo. 

Assim como ondas que abandonam o oceano e tomam o espetáculo para si, precisamos de coragem para despregar dessas rugas sociais mesquinhamente maquiadas. Ignoro normalidades e isso me instiga. Ignoro rostos inexpressivos e perfumes inodoros... e isso causa uma satisfação da minha música interna que insiste em tocar.
Vamos nos sentir estranhos e vamos, então, nos amparar na medida desse pertencimento absurdo.
 
Não estique seu latim cansativo, porque sempre serei a presa inadequada. 
Só hoje, seremos como frutos maduros que renunciam suas árvores. 
Me mate ou me salve, só hoje.

2 comentários:

  1. Me surpreendi com o texto que me mostra um mulher cheia de coragem, entusiasmo, personalidade, senso crítico, uma mulher cheia de si! Muito diferente da menina caxias da sala de aula do curso de Direito.
    Já aprendi algo mais com você. Esqueçamos os rótulos e preconceitos!
    Carol, muito prazer!

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  2. Professor, fiquei muito satisfeita em saber que leu e muito feliz com seu comentário. Feliz também em saber que meu blog te deu a possibilidade de conhecer um pouco das minhas ideias fora da sala de aula.. um pedaço (grande) do que sou. Obrigada pelo o que disse e por me ensinar tanto, todos os dias.

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