sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Cais


Sou matiz de uma obra do último infinito. Soo no eterno que já se foi e na brevidade do "para sempre" que refuto de acordo com as exigências do meu bel-prazer. Soo no tempo, na cura, no universo do que me significa. Moro no espaço do mundo, no espaço da minha efígie, no espaço da primavera das minhas flores-internas. Sou filha de todos os santos, protegida e abençoada pela confiança que sopro nas coisa em que creio. Sou mãe de algumas saudades fáceis e amiga leal das minhas dores mortais. Ando descalça na praça, na brasa, na poeira, na navalha, nos sonhos. Sou apaixonada pelo mundo comum que eu interpreto e pelos passos errados que trago na pele. Sou o que forte fica, a voz que eis, a coragem da auto-recepção. Sigo destituída de todas as coisas, menos de coragem e fé. Em passos que gritam, corro incansável até encontrar a linha do horizonte. Aprendi com a chuva como lavar a alma e como regar minhas entregas condensadas no hoje-sempiterno-desmedido-fugaz. Começo a existir no acaso de mil sentidos e no ímpeto de um mar. Termino na reviravolta de eus meus. Viva ou morta, quero sempre estar comigo. Não uso mapas, aspas, circunstâncias ou sintaxes... por isso amanheço em mim para que eu me oriente sozinha. Acredito que quando promovo meu próprio norte, me permito verdadeiramente. Meu mundo é cheio de luz, lis, anos-luz, Zodíaco e Saturno. Rasguei meu código de ética nos dentes, porque não mendigo aquiescências, não esqueço de me parecer comigo. Acolho, despeço, acendo meu isqueiro, entrelinho meias metáforas das línguas de qualquer poeta. Nasci para ferver sal no mel, para gerar quiçá com Umas e Outras de Chico Buarque. Nasci com a fúria de uma ideia azul e com a paz do meu caos. Não rejeito a necessidade dos alívios que invento, não tenho problemas com o conjunto que me denota e não censuro meu corpo: minha nudez vem de dentro. Me perfumo com uma poesia ressonante e atravesso a porta, cheia de detalhes impronunciáveis que trago no sangue, cheia de pressentimentos inconclusos e próprios de quem tem atrevimento para viver, seja lá como for. Sei que meu cais sempre desemboca nas vésperas de mim.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Somente


Por favor, quando chegar abra a porta num impulso. Esbarre em mim sem precisar pedir desculpas e me acomode dentro de ti, como o melhor cumprimento. Não temos tempo, deixe a cena nos vestir. Arrepie meus pensamentos. A voz da nossa conversa mental sussurra o desate. Derrama em mim o que emudece, que de mim transborda o que desamarra. Feche os meus olhos por conseguir traduzir minha visão nos seus toques. Nosso terreno é a invasão. Vem, e só me convide pro agora, que é onde fizemos morada. Vem inteiro, vem meu, vem úmido, vem paladar no que eu faço. Chegue e me ocupe. Os ponteiros dançam... não te peço tempo, eu quero a plenitude de meio relógio pequeno. Então, decida vir com aquele abraço que me veste na melhor seda. Chegue e não meça nossos excessos. Acenda meu cigarro, borre meu batom, me impeça de lembrar meu nome. Chegue e faça paisagem na alça caída do meu vestido. Me tire de casa. Vem despencar as estrelas do meu céu... vem me mostrar seu talvez. Vem me achar bonita e revelar labirintos no meu ouvido, me perder e só me encontrar dentro do assalto daquele seu olhar fixo. Somente. Chegue pleno, livre, solto. Sinta o aroma das palavras sem apego ao contexto e ao instrumento. Delicado, voraz, eloquente, estampado ou tranparente, mas sempre despido do mundo e da sua ultima estação. Toque no que é abstrato. Me traga aquele sorriso que não me deixa recuar. Me traga voltas. Quero um cativeiro momentâneo, quero atravessar a sanidade, mudar de ideia. Quero sussurrar que quero. Me traga um substantivo sem verbo. Um som, um vento, uma fumaça no ar. Me traga um corpo quente, uma dose de desejo, seu melhor beijo. Ainda é hoje!
Chegue para descobrir o que será permitido. Não tenho tempo a perder, me ponha pra dançar. Me relembre nós. Vez ou outra, meu mundo se veste com um paletó... e então, tudo o que eu quero, é despi-lo.