terça-feira, 2 de abril de 2013

Alea jacta est

Os pedaços agora, estão desmazelados. Pedaços despedaçados. Faz sentido? Tá sentindo? Ela não sabe mais e nem quer saber. Os cacos estão espalhados pela cozinha, roupas e vidas. Na ponta dos pés, ela luta agora, para não pisar em seus próprios resquícios cortantes. Mas, atendo-se a pormenores e fotos empoeiradas, acaba tornando os cortes ainda mais profundos esperando sabores de mudança. E nada acontece. E nada nas águas que a alguns instantes antes, rolavam pelos seus olhos e visitava seu rosto tão lindo e cansado, tentando não se afogar. E mais uma vez, nada. Todas as memórias e cartas e todos os "tudos" faziam-se presentes numa vontade gritante de que o tempo pudesse voltar, nem que fosse por um sopro. Sem sono e nômade como vento da noite, queria rebobinar. Rebobinar o carpe diem. Poder voltar todo o filme e revivê-lo, porque, para ela, só existia aquela história. Em vezes esparsas, reunia em suas mãos pequenas, boas vibrações e retalhos de força que em qualquer pouco tempo, não produzia efeito algum. E ela, se quebrava. E mais uma vez, pedaços. E mais uma vez, tudo outra vez. A vida então, era um eterna estiagem que roubava todas as chances de felicidade e calmaria. Luz de lanterna insistente, flutuando ausente e alienada. Como borboleta que não mais pode bater as asas, fazia-se quietude. E quieta, dissolvia-se em imaginações, dúzias de hipóteses e dardos lançados mentalmente. "E se...?".
Cansada, ela resiste. Calada, caminha acreditando na elasticidade do elo. Duelo. Cavando covas para enterrar assombrações e arriscando a própria sorte, ela resiste. Com todas as angústias e com o medo de que tudo (de repente) esfarele e seja levado pelo vento. Resiste mesmo assim, porque ninguém nunca havia dito que seria fácil e indolor ou que só existiria compasso e risos. Resiste dizendo repetidas vezes, que vai dar certo, parecendo extremamente forte e corajosa. E talvez fosse. E talvez, seja agora. E daí que esteja im(possível) demais? Resiste, a menina de armadura, porque quer amar. Amar, dura. 
Lá fora, o mundo gira. Pessoas, teleféricos e imagens. O vento típico da época retoma sua velocidade. Para ela, nada agora é visível. Da boca, um gosto molhado e salgado. Suspirando, sente o peso da memória puxando-a de volta ao passado. Ela poderia ter se livrado daqueles flashes e da realidade sem moldes, mas deitou-se fechando os olhos com toda força, deixando que tudo viesse à tona. Ela sempre permitia que os sentimentos voltassem...

A sorte está lançada. 

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