domingo, 27 de janeiro de 2013

Arquitetura


Era um lugarzinho autopiedoso. Uma construção fácil numa trilha serpenteada. Ficava escondido na última rua, na última curva, no último violeta pálido. Por vezes, rodeado de borboletas sem graça. Era um local nu e vulnerável. Nunca compreendi, realmente, aquele lugar. Tinha uma dose muita alta de memórias.. e de amnésia também. Quando bem cuidado, era quase um prisma de cores. Quando mal cuidado, salgado. O lugarzinho, era lindo. Servia de esconderijo. Um esconderijo para aquele tipo de pessoa que esconde a verdade porquê tem medo. Era uma casa, era uma roça, era pau a pique. Era um mundo urbano e era uma natureza calma. Era mil em um. Era uma oferta genuína e ilegível. O lugarzinho parecia nos receber sempre com um sorriso de gratidão. Não tinha endereço mas tinha bocados iguais de sombra e luz. Tinha algumas espécies plantadas em vasinhos de cerâmica. Mas não era concreto. Era tudo feito de alguns dias, alguns anos e uma vida. E tudo naquele terreno era tão, tão...
Anos se passaram e até hoje não consegui entender o lugarzinho. Anos se passaram e até hoje não consegui entender a minha mente.


Um comentário:

  1. Ler um novo texto seu é como fazer uma nova descoberta. Algo entremeado de profusão e mansidão. Algo somente seu. Mais uma vez, você disse complexidade com simplicidade; convergiu inúmeros pontos que, em geral, tomaríamos por divergentes; e plantou ali no meio a sua essência.
    Agora que leio o texto pela sexta vez, ela já desabrochou. Mais algumas e já vislumbro os frutos. E o mais importante: nele vejo você.
    Magnífico!

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